domingo, 20 de outubro de 2013

Ethos

          Acabei de ler um artigo de Dominique Maingueneau sobre o ethos nos textos escritos e falados, e eu que sempre gostei tanto das aulas sobre a teoria da conversação, percebi que nada absorvi, que o meu próprio ethos é ridículo, sem identidade nenhuma, ou se tiver, não passa de uma identidade medíocre.
          Assim estava escrito: ...o ethos por meio da comunicação revela a personalidade do enunciador. São traços de caráter que o orador deve mostrar ao auditório para causar boa impressão.(...) Eu sou isto, e não sou aquilo.
          Foi ali que minha ficha caiu. Que ethos de merda esse o meu! Descobri que não me contento em ter apenas uma imagem, devo ter mais ethos diferentes do que sapatos... Me desesperei. Que tipo de imagem eu estou transmitindo para o meu auditório? E não tenho vergonha de admitir que vai depender muito da pessoa que se senta na minha frente, afinal de contas, eu sempre tive meus diferentes graus de afinidade com cada um, e não posso sair mostrando meu verdadeiro ethos assim pra qualquer um não...
          E quem será que conhece esse meu verdadeiro ethos? Batata, eu sei quem é... E mais uma vez, que merda de ethos é esse? Uma enunciatária louca, desesperada, aquosa, pegajosa, irritante, falante, e nada confiante. Eu, toda pose e toda prosa, tendo um ethos verdadeiro como esse? Pelo amor de Deus...
          Olhando pra trás, e relembrando de algumas coisas, acabei por entender que aquele meu ethos forte, firme, fixo, concentrado, focado, se perdeu em alguma esquina por ai, e decidi que vou procurá-lo e achá-lo!
          Maingueneau que se mostrou tão simpático, tão ilustre nas minhas noites nessa última semana, de repente de dá uma facada, assim, bem no meio do meu nariz. Perdoe-me Maingueneau, mas eu realmente não consigo reconstruir esse meu ethos, não importa o que você diga... Vou caçar aquele antigo que já estava prontinho, tão bem sucedido, tão brilhante, tão sedutor...
          Depois de vaguear pelos meus pensamentos, refletindo sobre tudo isso, terminei de ler o artigo, e fiquei na expectativa de ter algum tópico sobre a dificuldade de desenvolver um ethos quando há um bloqueio mental/físico/imbecil, mas não achei. Poxa, Maingueneau, como é que você não pode escrever sobre isso? Tenho certeza de que todas as mulheres com mil e um ethos queriam saber sobre isso também.
          Vamos caçar aquele meu antigo ethos, mas e se eu o encontrar, será que ele ainda vai caber em mim?