sábado, 10 de novembro de 2012

Partida.

Cansei de praguejar ao vento.
Mas não tenho coragem de dizer seu nome em alta voz.
Cansei de chorar com medo.
Mas não tenho coragem de lhe dizer o que me aflige.

Não posso mais contemplar seu nome,
em tudo que acerca o que me domina.
Não posso mais sofrer calada,
mas tudo me faz calar, me detém...

Cansei de fazer exceção.
Quero riscar de uma vez seu nome do meu medo.
Cansei de sorrir quando quero gritar.
Quero gritar aos quatro cantos que te odeio.

Nunca lhe vi, nunca lhe falei.
Jamais desejaria tal ação.
Nada nunca me fez,
mas fez tanto ao mesmo tempo.

Que isso finda, que isso fuja.
Planeje sua fuga, planeje sua ida.
E não volte.
Nunca mais.


domingo, 4 de novembro de 2012

O metrô e o amor.

        Depois de um dia cheio de preocupações e faces sérias pra qualquer um que me visse, fiz meu usual caminho pra casa. Mais um motivo pra me encher de estresse e fúria. Quantos quilômetros pra percorrer, quantos pulos de transportes em transportes, quantas faces que eu nunca vi e que nem jamais verei novamente.
        Numa linha de metrô que já não me lembro mais qual era, faço uma pausa em minha leitura de um livro que tira meu pensamento do meu mundo e começo a prestar atenção numa cena insólita e inesperada pra meu estado de espírito naquele presente momento.
       Estava sentada num banco ao lado de uma moça bem vestida que tinha os olhos inchados e vermelhos, sua expressão não era amigável e seu cabelo parecia querer esconder dúvidas e olhares que mais ninguém podia ver e saber. Ela parecia ser bem jovem, bonita e esguia, como várias outras mulheres que faziam seu trajeto pra casa. Mas sua tristeza me fazia perder uns segundos tentando fantasiar o motivo de tanta tristeza. Será que teria ela perdido um ente querido? Um familiar, um cachorro de estimação... Ou será que ela teria sido demitida injustamente de um emprego do qual contava com o salário minúsculo, pra poder alimentar sua mãe doente e seu filho pequeno de uma gestação inesperada? Ou ainda, teria ela brigado com seu homem, e terminado um relacionamento que apenas rumava às aparências de um catelo desabando? Ou teria ela sido vítima de uma traição irreparável, e toda aquela tristeza era representação de uma luta entre a razão e o coração?
Não soube responder com precisão, mas por algum motivo que não sabia qual era também, sabia que sua tristeza era de amor. Qualquer forma de amor que pudesse existir na face da terra. Afinal por qual outro motivo ela perderia tantos sorrisos e perderia tanto tempo de seu precioso tempo?

         Perdi o interesse pelo sofrimento daquela jovem ao ter meu olhar atraído por um som de risos do outro lado do vagão. Uma mulher de meia idade vestida casualmente, e um homem com aaprentemente a mesma idade, mas ventido de terno e gravata, riam compulsivamente, trocando olhares lúdicos e insinuantes. Suas faces estavam o tempo todo próximas, e por várias vezes eles trocaram carinhos amorosos como beijos e toques suaves na pele. Certamente estavam apaixonados, estavam emanando aquele calor de amor deles. Prestei mais atenção à cada detalhe e na ocasião. Eles pareciam se despedir, e eu via no olhar deles que o maior desejo era que o tempo parasse para que eles pudessem se amar um pouco mais. O dia deveria ter sido muito bom.
        Na estação seguinte, os dois se levantaram, ele lhe abraçou forte, e lhe segurou em seus braços até o último segundo possível. Ao soar o sinal que anunciava o fechamento das portas do trem, o homem largou sua amada e apenas olhou em seus olhos fixamente através do vidro até o trem começar a andar. A moça acenou, lhe mandou beijos como se mais ninguém a estivesse observando. Quando o trem finalmente entrou no túnel, ela virou-se de costas para a porta que estava comtemplando e ela fechou os olhos e suspirou aliviada. Sua expressão mudou e tudo aquele amor parecia ter se transformado em asco. Ela rapidamente pegou um lenço de sua bolsa, e passou com grosseria pela pele do rosto, comos e quisesse tirar toda aquela saliva que ali ficara remanescente.
Ela retocou o batom, olhou-se no espelho que também tirara da bolsa e soltou os cabelos. Sua expressão tinha se tornado uma incógnita pra mim. Todo aquele amor se foi, e parece que aquilo tudo não passava de fingimento. E eu acreditei piamente que era verdade. Enganei-me.

         Numa mesma situação, e em questões de segundos, vi três casos de amor: um de dor, outro de verdade e outro de mentira. Me dei conta de que haveria muitos mais tipos de amor que eu jamais conhecera. Mas que existiam em quantia naquela imensa cidade cor cinza. Espantei-me ao ver que a dor talvez seja a melhor saída ao invés do fingimento. Não quis me aventurar em questionar as razões daquela mulher de meia idade que enganava aquele pobre homem, que parecia tão apaixonado, e senti pena por ele e por todo aquele relacionamento mentiroso.
        Por uns segundos, vaguei o nada. Fiquei tentando organizar tudo aquilo na minha cabeça e depois de algum tempo, ao perceber que minha estação de destino estava próxima, apenas agradeci por ser quem sou, e ter um amor que não se enquadrava em nenhuma daquelas situações.
Desci do metrô e esqueci tudo aquilo.


A galáxia.

E cá estou eu largada numa gaiola de seres famintos que só pensam na própria existência.
Não comtemplam os outros como semelhantes, e sim como rivais.
E cá estou indignada na gaiola tentando me esconder de tudo e de todos.
Já não me abro pra tantos, guardo para mim meu ínfimos segredos de galáxias perdidas.
E cá estou eu amedrontada nessa gaiola de sanguinários que tem sede constante.
Não saio mais de minha própria consciência, estou atada ao homem de ferro que carrega ferro e mata com ferro.

E lá está uma salvação ilusória que virou mercadoria, que se banalizou.
Não sentem mais medo daquilo que causava pavor.
E lá está um Deus que já não representa a glória, e o poder.
Não veem mais uma solução cabível aos olhos humanos.
E lá está um povo perdido, descrente, ausente, e que chora.
Não sentem mais piedade de uma família destroçada pelos destroços de um homem que já não é mais humano.

E não achei nenhuma razão pra sair do meu casulo.
Ao abrir a porta da minha alma, não tenho coragem de me levantar e gritar.
E não vejo nenhum fio de esperança ao redor da minha galáxia.
Ao abrir oa olhos, não vejo nada que desperte a vontade em mim.
E não sinto mais nenhum sentimento bonito ao avistar a cidade de ferro que cresceu diante de mim.
Ao abrir os meus horizontes ao luar. vejo que a única solução é me abandonar numa esquina qualquer, e pousar em outra galáxia.