sábado, 1 de setembro de 2012

A casa.

          O dia começou como outro qualquer. Os mesmos problemas, os mesmos pensamentos, e a mesma vontade quase nula de tomar o café da manhã. Me contentei com algumas bolachas, e me desanimei com a casa que ainda dormia.
          Como minha usual distração li algumas páginas de um livro, esperando algum sinal de vida. A casa silenciosa, me trazia paz, me convidava para gritar aos quatro ventos como aquela paz me fazia esquecer de todos os problemas. Não sei quanto tempo se passou até a casa inteira levantar daquele sono preguiçoso de sexta-feira. O problema da inversão de horários bateu à porta e meu humor já se foi midificando. Aquela paz já me deixara.
          Após algumas palavras, sempre muito sérias e dentro da linha com os habitantes da casa, decidi que permanecer aqui só me faria perder o controle sobre meu próprio humor. Procurei uam desculpa rápida, um álibi que me pudesse pra fora da casa. Durante o processo de me ajeitar pra passar o dia na rua, fui chamada algumas vezes por um dos habitantes para ver o caos que a cidade de concreto fornecia aos jornais por mais um dia seguido. Acidentes diversos, para todos os gostos: carro, moto, sequestros, fogo, assalto, atropelamento... Enfim, havia uma infinidade de casos para se horrorizar. E meu pai fazia questão de se horrorizar com cada um deles, e na sequência, me narrar uma longa lição de moral. Aquilo me embrulhava o estômago. Já estava cansada de tanto ouvir aquilo, de tanto fingir que me importo com o que se passa por ai. Eu tinha meus afazeres pelas ruas tão perigosas, era inevitável, e ele sabia que me cuidava ao máximo para evitar futuras reclamações e repreensões.
          Ao me despedir, ao me direcionar à porta, eis que os eixos daquele dia tão monótono mudariam completamente. Sou surpreendida por uma pergunta, por uma simples pergunta, mas que vinda de quem veio, me pareceu suspeita. Há tempos sei de uma insatisfação alheia quanto à cidade de concreto. Dizem que quem não aqui nasceu, não sabe lidar com uma vida perpétua aqui. E neste caso, o que dizem por ai se aplica. E aquela insatisfação que apenas surgia na minha mente de vez em quando tomou forma com aquela simples pergunta. Tudo clareou.
     -Quantos anos ainda faltam pra você se formar? - assim disse meu pai.
Naquele momento não sabia como agir, e apenas respondi. Meus pensamentos voaram. Revirei meus neurônios procurando alguma razão para aquilo tudo. E encontrei. Mais uma vez a casa quer tomar o rumo da minha vida, mais uma vez aquele pesadelo vai começar.
          Dessa vez, eu não me afetei, era exatamente isso que eu queria, um álibi para a minha fuga pessoal, e nem precisei me esforçar muito. Minha própria cidade tratou de resolver isso para mim.
Discutimos sobre termos que não cabem aqui serem ditos, discursamos sobre as possibilidades, e finalmente uma frase implícita se formou, e a casa apenas disse que depois conversaríamos mais, como sempre se faz por aqui.
          Surpresa, feliz, confusa... Não sei bem ao certo, não sei como explicar o que se passou por mim, mas aquele sentimento de perda voltou à minha mente. De repente tudo é nada, e esse nada se tornou tudo. Aquela historinha boba de futuro planejado nunca fez mesmo meu estilo. A partir de hoje tudo foi jogado ao ar, aos ventos da minha cabeça confusa. Talvez não tão confusa agora, mas ocupada planejando e digerindo tudo o que foi dito, e calculando o quanto o navio mudou de direção.

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