sábado, 14 de abril de 2012

14/04

          Conversávamos sobre vida a dois. Umas cinco mulheres de idades diferentes, de situações extremamente distintas. Uma mesa nos cercava, uns copos de caipirinha, um guardanapos amassados nas mãos de algumas delas. Uma música alta ao fundo e crianças gritando e correndo em volta. Uma comemoração simples de aniversário de criança.
          A primeira da roda era recém separada, uma mulher de meia idade,  desacreditada ainda da situação que ela passava, um ano e meioa e o sentimento ainda a perturbava, em certos momentos inclusive, seus olhos chegaram a encher de lágrimas, me senti incomodada pelo assunto tão delicado pra ela.
A segunda, grávida e calada. Ficou apenas ouvindo e concordando ou negando com a cabeça, tinha espasmos de tristeza, olhava pro nada de vez em quando. Ao fim da conversa descobrimos que havia uma briga entre ela e seu marido rolando no meio da festa. Casamento novo, filhos novos.
A terceira, mais velha, estava já um pouco alterada pelo álcool da caipirinha, iniciou o assunto e desabafou sobre suas mágoas guardadas. Por sinal, era mãe da moça calada. Separou-se há uns 6 anos e homem era carta morta e enterrada na sua vida, a única falta que sentia era de um apoio financeiro.
Outra moça nova estava ao lado, bonita, robusta, elegante. Mãe solteira, fruto de um relacionamento errado demais pra dar certo, o filho era motivo de orgulho. Mantém agora um relacionamento sério que promete durar. Pareceu-me sonhadora demais pelo que já viveu.
A próxima, mãe da sonhadora, era mais velha, casada, pseudo-submissa. Manter um casamento por tantos anos não é coisa fácil, alguém tinha que ceder. Pouco falou sobre o assunto, preferiu silenciar-se em certos momentos para não causar atritos.
A última antes de mim é mão da primeira, a mais velha da roda de mulheres, seguríssima de si, pseudo-casada, prestes a completar bodas de ouro, sofre pelo dilema dos filhos, daquelas que se intromete por inocência na vida deles e acaba sendo mau vista.
E eu, calada o tempo todo, só observando, analisando o perfil de cada uma delas, prestando atenção em cada colocação verbal e corporal.
         
          -Olha, só sinto falta de homem pra pagar as minhas contas, porque de resto, quero distância... Ihh, posso sair quando eu bem quiser, voltar a hora que eu quiser. - disse a introdutora do assunto, a senhora da caipirinha.
        
          O assunto virou polêmica, perguntaram se as outras separadas também achavam a mesma coisa, houve divergência, umas disseram que podiam muito bem viver sem ninguém, e além do que preferiam sustentar-se por si sós. Naquele momento pensei no quão delicado e pessoal aquele assunto poderia ser para algumas mulheres da mesa. As mais velhas eram absolutas ao dizer que quando casa-se, uma pessoa se anula, outra vive, que se não for assim o atrito destroi. As mais novas relutavam a negar, conhecendo o perfil de cada uma era nítido saber quem estava mentindo.
A paternidade entrou em cena, sendo a coisa mais importante mesmo após uma separação, ser pai era algo inegável para todas, as separadas tinham orgulho em dizer que podiam contar com seus ex para qualquer coisa, menos para dinheiro e pensão.

          -Ele te ajuda com pensão? - uma delas perguntou a uma separada.
          -Ele ajuda quando ele pode, não faço questão. - essa foi a resposta de uma delas. Toda segura da sua posição. As mais velhas reprovaram com afinco.

          O orgulho feminino em poder trabalhar e conseguir ver o sorriso do filho satisfeito era o diamante daquelas mulheres, em desacordo com as demais. Achavam um completo absurdo não exigir dinheiro, mas o sentimento de piedade alheia era demais pra mudar a cabeça de qualquer uma delas que concordavam na autossuficiência financeira feminina.
As mães presentes faziam questão de martelar na cabeça das filhas que era obrigação, que era lei, que era sagrado. As colocadas em questão acham que cadeia era uma palavra terrível naquele aspecto, colocar alguém com quem ela conviveram anos de paixão era impossível, fora de questão.
O assunto da submissão e apagamento da vida de um ser do casal voltou à tona com tudo. A moça grávida saiu da mesa choramingando, engolindo o choro, como se ela se identificasse com cada palavra do discurso da própria mãe. Depois que ela se retirou, foi a mãe quem não se segurou e começou a chorar, nítidamente ela se esforçava pra segurar tudo aquilo, mas saber, ver e sentir que naquele momento a sua filha estava sendo aquela mulher que precisava viver e deixar viver, era demais pra ela.
           Diante de tudo isso a indagação mental foi geral, e me falaram por último para não fantasiar demais da vida. Questionei-me sobre tudo. Sobre a minha situação presente, sobre o quanto durante aquele dia eu já tinha pensado sobre diversas frases e coisas referente à isso, ri de mim própria por ser uma jovem completamente incógnita da minha vida futura, num sentido amplo. Me coloquei na pele de cada uma delas, conseguia entender cada uma. Elas lá tinham suas razões e eu entendia.
Me flagrei imaginando um futuro perfeito destruido pelas situações mil que poderiam acontecer, apaguei tudo isso da mente e vi como eu sou centrada nas minhas convicções.
Mas vi também o quão condenada por elas eu poderia ser se abrisse a minha boca para expressar a minha opinião. Me perguntei tantas coisa, imaginei tanta coisa...
Por último, balancei as minhas palavras, e as minhas próximas ações diante do meu dia. Resolvi calar-me e enfrentar o que vier ai pra frente.

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